Então, deixemos de remar… de ir contra a maré forte que nos derruba incansavelmente. Deixemos de nos importar com o que o outro sente. Que se lixem os sentimentos, as pessoas, os momentos e as memórias. Ficaremos livres de represálias e de coisas fúteis, de pessoas arrogantes e otárias. A maioria nem sabe amar.
Para isto navegar ambos temos de remar. Contra a corrente, muitas vezes, pois só assim iremos conseguir manter-nos juntos.
O problema de quase todos os que dizem saber amar é que não sabem lutar pelo que amam. Parece estranho? Contraditório? Não é. É a mais pura das realidades, em que uma das partes sai sempre mais ferida. E cansa ser magoado tanta vez. Cair ao mar e não saber se deve voltar ao barco e remar ou se apenas deixar-se afogar. Afinal, é tão fácil terminar com tudo. Basta uma coisa mínima e deixamos de respirar. O mundo que julgamos conhecer termina e as pessoas com quem vivemos desaparecem. O que pensamos nessa altura? Será que dá para pensar sequer em arrependimentos?
As coisas terminam tão rápido. Julgamos ser capazes de apreciar tudo com mais intensidade, julgamos poder parar o tempo, mas não temos esse poder. Gostava de poder saber o que me faz querer voltar a remar ainda que tudo em mim sangre e grite para desistir.
Continuei. Sempre continuei. As birras eram muitas, as mudanças de humor insuportáveis e as memórias menos boas vinham sempre nadando até mim. E não foram motivos suficientes para fazer-me desistir.
Só que veio a maré alta, forte, destruidora e levou-te consigo. Uma onda foi capaz de balançar e destruir todo o meu árduo trabalho. Então para quê continuar? Para quê amar? Somos feitos de sentimentos e queremos todos deixar de sentir.
Estamos caminhando para a última linha de batimento. Finalmente, fomos capazes de deixar de remar contra o inevitável. Este é o fim. Então deu para pensar? Receio que não…